E eu gostava tanto de você!

- "Não tem mais jeito. É só questão de horas."
Disse o médico cheio de cuidado, gaguejando, sem muito olhar nos nossos olhos.
A respiração dela foi ficando cada vez mais fraca e uma aflição tomava seus pés, inquietos, desafiando todos os anestésicos e sedativos mais eficientes da medicina.
A mãe olhava o corpo, praticamente já sem alma, da filha, naquela cama, incansável de ter lutado por mais de dois anos contra aquela maldita praga que costuma dar um corte na humanidade quando ela já se encontra folgada pra se estender!
Daí, um último suspiro e a dor se misturava com o alívio naquele quarto frio, numa tarde de sábado nublado.

A dor, o choro, o desespero, o medo e a sensação de impotência se transformam numa coisa só. E demora pra gente perceber que na verdade os acontecimentos da nossa vida inteira sempre foram em questão de horas, minutos, segundos.
De repente você está só.
É difícil admitir que as pessoas que você tanto lutou junto, são pessoas levianas com o coração dos outros. E principalmente com o seu.
A impotência permanece mais ainda de saber que seu choro e sua dor é muito pequeno para que atinja ao próximo.

" Não seja leviano com o coração dos outros e não ature gente de coração leviano! "

Não aturo mais.